Ainda garoto, contando com 14 anos, envolvi-me numa briga em sala de aula, na qual levei ligeira desvantagem. Para tentar restabelecer o confronto e a honra, determinei revanche com a famosa frase juvenil: Vou lhe pegar lá fora. Todos presenciaram a ameaça dirigida, inclusive, a professora de história e alguns alunos que separaram a contenda nos chamando a atenção rispidamente.
Meu oponente ouviu bem o recado. Continuamos a assistir as aulas na mesma sala, sem que o menor princípio de litígio dali surgisse. Ele era um bom garoto e eu também, embora possuísse um temperamento mais vulnerável aos ataques de ímpeto circunstanciais.
Tudo corria bem, até que aproximadamente duas semanas após as ameaças proferidas por mim, o meu colega de sala, antigo adversário, apareceu num manhã cinzenta com o olho esquerdo contundido, “olho roxo” na linguagem vulgar.
Ali não desconfiava que a minha ameaça seria um forte indício contra mim. Aproximei-me dele e suavemente indaguei o que teria sido aquilo, ao tempo em que ele respondeu em tom tímido que teria recebido um soco na porta da escola de alguém que ele nunca tinha visto antes.
Não tardou três dias, fui convidado à sala da direção para fins de esclarecimento. Lá chegando, já se sabia qual era a pauta, anunciada imediatamente pela voz do Diretor. Conheci um processo penal dessa forma. Com vítima, réu, testemunhas e um juiz. Fui interrogado, esbocei minha auto defesa, sabedor da minha inocência reproduzi a verdade com segurança.
A sentença nunca foi anunciada expressamente. Só a percebi quando os dias angustiantes se passaram e eu não sofri a mínima punição. A pena poderia ter sido uma suspensão ou mesmo a mais drástica que era a expulsão, podendo mudar completamente meu rumo na vida. Sorte minha que meu juiz não condenava por indícios, precisava de mais: provas seguras.
Thiago Pinheiro
Advogado criminalista.
Graduado pela UFAL.
Especialista ciências criminais.
Mestrando em direito público pela UFAL.
Ex-presidente fundador da ACRIMAL.
Fonte: verdadealagoas
